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Estudo de caso

Como times podem manter saúde mental e cultura trabalhando remotamente?

Titulo da publicação: Como times podem manter saúde mental e cultura trabalhando remotamente, com Marcelo Cardoso, da Chie Integrates

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Adequação. Se essa palavra e o seu significado não faziam parte da rotina de pessoas e organizações até agora, o ato de se adaptar e de criar novas rotinas, ressignificando espaços de trabalho e lazer, se tornou realidade. E de forma bastante repentina.

A pandemia da COVID-19 teve um grande impacto não só nos processos das empresas, mas também na forma como as pessoas encaram o novo cenário de incertezas, riscos e instabilidade. E o mais importante: como as pessoas mantêm a saúde mental e as empresas reforçam elementos da sua cultura em tempos de trabalho remoto.

Para falar sobre este e outros temas relacionados ao isolamento social, o Google for Startups promove uma série de Live Sessions. Durante a primeira delas, o diretor André Barrence bateu um papo com Marcelo Cardoso, da Chie Integrates, sobre trabalho remoto em equipe, saúde mental e física.

Marcelo atuou no Programa de Residência do Google for Startups como Entrepreneur in Residence junto aos fundadores das startups participantes do programa para desenvolvimento de líderes. Com mais de 25 anos de experiência no mercado, Marcelo acredita que a evolução das pessoas, nutrindo relações profundas e significativas, transformam as organizações e a sociedade.

Leia a seguir a recap da Live Session com o executivo da Chie Integrates, que foca nos líderes de equipe e fundadores de empresas e startups sobre como manter a rotina com times remotos.

Para quem quiser assistir ao bate-papo completo, o vídeo está disponível no final da página.

Corpo, mente e emoções interconectadas

Um dos principais pontos abordados foi o fato do nosso corpo reagir biologicamente aos efeitos da crise. “Associamos a saúde mental apenas ao que acontece no nosso cérebro. Mas a ciência está comprovando que não existe uma separação entre mente, corpo e emoções, e sim uma interconexão. O estresse e as doenças mentais acontecem por excesso de ativação do sistema nervoso”.

Em momentos assim, o cérebro entra em modo de sobrevivência, como se estivesse diante de uma ameaça. E essa é a mesma sensação que líderes e empreendedores estão encarando no momento.

“Toda preocupação sobre como manter o negócio e os times cria um estoque residual no corpo, que gera diferentes reações, como a perda do foco e da visão periférica, enviamos menos oxigênio para o cérebro, os batimentos cardíacos aceleram, entre outros. A gente começa a produzir estresse em si e no outro, gerando um comportamento coletivo de pânico ou dissociação, aumentando ainda mais o desafio de viver na crise”, explicou Marcelo.

Por isso, é importante se autorregular diante do cenário atual e manter o sistema nervoso relaxado, além da consciência corporal e sobre o momento que vivemos. Sem esquecer que, mesmo virtualmente, estamos conectados, vivos e seguros. Como indivíduos, temos a oportunidade de fortalecer as nossas relações e negócios, sem ignorar a gravidade do cenário global, mas mantendo a capacidade de se regular.

Líderes atentos ao bem-estar de seus times

O principal papel do líder é criar um ambiente de segurança psicológica para seus times. É preciso se manter atento às suas diferentes reações e também às dos outros. No caso de um desequilíbrio entre vida pessoal e profissional, podemos chegar aos estados de hiperativação ou desativação. “Reagimos como se o nosso sistema entrasse em colapso. No primeiro caso, a fala fica rápida, os ombros tensos e temos dificuldade para dormir ou nos conectar. Com a desativação, a pessoa pode ficar mais letárgica e desorientada, sem reação”, aponta Marcelo. Levando esses pontos em consideração, os líderes podem promover práticas para humanizar as videoconferências e tornar o trabalho remoto mais prazeroso.

Reequilíbrio na rotina

Para se adaptar à nova forma de trabalhar sem chegar a um esgotamento físico e mental intenso, conhecido como burnout, existem dois pontos importantes para minimizar o impacto do estresse de trabalho: pausas e atitudes mentais positivas.

“A capacidade de criar pausas durante o dia é essencial. Precisamos criar disciplinas, como trabalhar 50 minutos e pausar durante dez minutos, por exemplo. E, durante a pausa, fazer alguma atividade que não tenha relação com o trabalho, como a meditação ou apenas ficar quieto por um momento”, orienta o executivo.

As atitudes mentais positivas estão ligadas com o relaxamento do sistema nervoso e em percebemos as reações do nosso próprio corpo. Associar o trabalho apenas ao estresse gera maior tensão corporal e, por isso, é essencial equilibrá-lo com outras atividades que dão prazer, como esporte, arte ou leitura. “A mente também relaxa quando lembramos da sensação do corpo em momentos de prazer, como um banho de cachoeira. Você se conecta com o que te dá prazer e a memória, não só a mental mas também a sensorial, deixa a sensação se espalhar pelo seu corpo”, pontuou.

Marcelo também fez uma profunda reflexão sobre quatro dimensões para mantermos a resiliência e as boas relações em tempos de pandemia: autorregulação, relação com outros indivíduos, construção do campo mental e coletivo, e dimensão espiritual. “A crise nos arremessou nessa nova realidade e mostrou que nós não temos controle do que pode acontecer. E nós precisamos encontrar confiança e segurança mesmo diante deste cenário”.

Como reforçar elementos da cultura das startups em tempos de crise

Outra questão relevante é que as empresas são formadas por diferentes fluxos. O principal deles é o valor que oferecem para os clientes. Mas existem vários outros, como recursos materiais e informação. Além do que é concreto, existem os fluxos implícitos, como a troca e o afeto entre as pessoas. A energia, o valor da organização e todos esses fluxos acontecem simultaneamente, mesmo que de forma virtual.

“A cultura é como a qualidade da água que nutre todos os fluxos de uma organização. É um conjunto de valores que se reflete no comportamento das pessoas, em todos os rituais e símbolos e como todos esses elementos se interligam. No fim do dia, gerir cultura é gerir bagunças”, explicou Marcelo.

Por isso, o líder precisa trabalhar com objetivo de criar uma coerência entre a metanarrativa da organização e as micronarrativas, ou seja, o centro de gravidade das histórias, para manter o negócio funcionando. “O líder faz isso na forma como sustenta os seus fluxos e como transforma as narrativas em estratégia, na forma de gerenciar e remunerar os times, entre outros”.

No cenário em que estamos vivendo, o desafio de encontrar coerência aumenta ainda mais. Isso passa pela capacidade de entender o peso da narrativa da organização e como ela afeta a todos. Em um ambiente de crise, todo fundador está sob pressão e precisa encontrar meios para não projetar a ansiedade no time e convidar para que façam o mesmo exercício, mantendo fortes os principais elementos da cultura da empresa.

Lições 

Marcelo encara a atual situação como uma oportunidade para reconhecermos o nosso potencial como seres humanos. “Ser humano, com H maiúsculo”, brinca. Para as empresas e startups, ele deseja que tenham cada vez mais espaço e oportunidade para resolver questões e dilemas da sociedade, grande desafio no momento em que vivemos e para o futuro.

Confira a live completa abaixo:

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