Delfos reduz tempo de coleta de dados, otimiza processos no setor de energia e mira internacionalização
Noventa e nove vírgula seis por cento. Esse número equivale à redução de tempo que a startup cearense Delfos atingiu no processo de coleta de dados referentes à operação de empresas que utilizam recursos energéticos. A espera por novas informações sobre falhas e performance de ativos críticos de equipamentos foi de 24 horas para cinco minutos e, com mais agilidade, a empresa tornou o processo de manutenção das dez empresas que atende ainda mais eficiente, ajudando a reduzir custos operacionais como consequência.
A startup coleta os dados por meio do software Delfos IM, replicável de acordo com as necessidades e objetivos de monitoramento de cada empresa. Elas podem optar pelo uso da metodologia de cálculo já criada ou acrescentar novas análises na plataforma de acordo com as suas premissas operacionais. Com uma assinatura mensal, a empresa tem à sua disposição um key account manager para discutir alertas de falha e quaisquer outras demandas a partir da contratação do serviço.
Para tornar o modelo de predição de falhas mais assertivo, os fundadores passaram por processos de aceleração e experiências junto a empresas do setor fora do Brasil, até chegar à 6ª turma do Google for Startups Accelerator em 2020. Com apoio de mentorias dos especialistas do Google e parceiros ao longo do programa, a Delfos escalou o negócio e se tornou ainda mais ágil, entregando predições cada vez mais completas e complexas para as empresas do setor de energia.
Onde tudo começou
A Delfos foi criada em 2017 pelos empreendedores Guilherme Studart e Samuel Lima, mas a sua história começou a se desenhar um ano antes, quando a startup ganhou o prêmio EDP Open Innovation e iniciou o seu relacionamento com um dos grupos mais influentes no panorama energético mundial. Após a conquista, os fundadores da empresa passaram um mês em Portugal em processo de validação do negócio, discutindo projetos e oportunidades com profissionais especialistas em turbinas eólicas.
A relação com a EDP se estreitou em 2018 e, no início de 2019, a startup brasileira foi a primeira da América Latina em que a companhia portuguesa investiu. "A EDP está entre as cinco maiores operadoras de energia renovável do mundo e, a partir do momento em que enxergou valor na nossa solução, ficamos confiantes no nosso desenvolvimento e persistimos na atuação junto a esse mercado", explica Guilherme.
Os três anos foram marcados pela validação técnica e comprovação de que as soluções da Delfos se encaixariam no mercado de ativos de energia. Com mais confiança no projeto, foi dado um novo passo rumo à escalabilidade global do produto. Foi aí que os fundadores decidiram se inscrever para o Google for Startups Accelerator.
Acelera, Delfos!
O maior desafio da startup quando ingressou no programa de aceleração era ganhar mais agilidade nos processos do dia a dia. Dentre eles, a gestão das mais de 1500 turbinas eólicas conectadas na plataforma que, até a participação no programa, dependia da rotina repetitiva de 21 funcionários para atualizar os dados referentes a cada uma dessas turbinas.
A startup atuava com desenvolvedores dedicados a avaliarem tanto se os algoritmos e os softwares estavam rodando com a máxima eficiência quanto para atualizar os dados de falhas e monitoramentos das empresas de energia.
"O processo era lento: diariamente, eu colocava uma tarefa no calendário do time para analisarem os dados e, com um alto volume de trabalho, a execução foi se tornando cada vez mais desafiadora e estávamos correndo o risco de perder a confiabilidade e a qualidade do software", relata Guilherme.
Considerando o cenário, a Delfos começou a investir em ferramentas que permitissem testes de uma quantidade maior de modelos ou aplicações e que tornasse o processo cada vez mais automatizado. De acordo com Studart, a infraestrutura tecnológica que desenvolveram durante o Accelerator permitiu que a startup encontrasse novos caminhos para atuar de forma diferenciada junto aos seus clientes.
"Conseguimos testar centenas modelos preditivos em um só dia, o que antes demoraria mais tempo. Além disso, o custo do processamento para rodar esses modelos caiu exponencialmente, permitindo que a gente atuasse de forma mais escalável."
Guilherme Studart, cofundador da Delfos
Um ano em três meses
A implementação das ferramentas sugeridas pelos especialistas que participaram do programa otimizou a arquitetura de software da Delfos, permitindo que reforçasse ainda mais o valor do seu produto junto aos clientes. Além da maior agilidade na coleta de alguns tipos de dados, que passou de 24 horas para cinco minutos, atualmente, a Delfos é capaz de testar seis vezes mais algoritmos e implantar seis vezes mais previsões com a mesma infraestrutura. "Ou seja, aumentou significativamente a chance de acertar a análise preditiva", completa o cofundador.
A Delfos também passou a utilizar o TensorFlow, ferramenta que funciona como uma "biblioteca" de códigos abertos para prototipagem de modelos de Machine Learning. A startup conseguiu aumentar a velocidade do processamento do ML e estima que, para processos de predição complexos, ela se torne 16% mais rápida, passando de 30 para 25 minutos.
O processo de mentoria foi essencial no crescimento da startup. De acordo com Guilherme, um dos grandes papéis do processo foi ajudá-los no ajuste fino das ferramentas que já utilizavam para ganhar escalabilidade. Por outro lado, reforçou a importância do investimento na parte de branding no ciclo de vendas B2B, algo até então pouco explorado pelos fundadores.
Rumo à internacionalização
Até então, a Delfos atua em parques eólicos e hidrelétricas do Nordeste e do Rio Grande do Sul, além de outras que utilizam recursos energéticos no Rio de Janeiro. Porém, por surgir com a visão audaciosa de se tornar uma empresa com atuação global, a startup já navega rumo à internacionalização do negócio.
Depois do Google for Startups Accelerator, a companhia parte agora para um programa de aceleração na Noruega e vai desenvolver projetos pilotos para aplicação direta de tecnologia em empresas do setor marítimo e eólicas off-shore. Além disso, está explorando oportunidades junto a empresas de energia eólica estadunidenses.
O cofundador reconhece que a atuação no Brasil foi – e continuará sendo – primordial para o crescimento da Delfos, mas sente que a startup está pronta para se desenvolver também fora do país.
"Ganhamos uma boa experiência nesses três anos de atuação e estamos prontos para continuar a nossa expansão no mercado brasileiro ao mesmo passo que aproveitamos oportunidades junto a empresas em solos internacionais. Isso só foi possível por conta da arquitetura tecnológica robusta que desenvolvemos ao longo do Google for Startups Accelerator", finaliza.